( Cabaça africana. fonte internete).
Ìyá mi Odù-logboje
“A misteriosa esposa de Ifá”
Ìyá mi Odù-logboje é um òrìsà feminino, dentro do corpo literário de Ifá, alguns itàn dizem que essa foi a primeira divindade feminina a vir para a terra.
Chamada também de Odù, essa energia misteriosa é ainda pouco conhecida no Brasil, justamente porque seu culto é restrito aos seus iniciados, podendo apenas ser louvada pelo outros devotos.
Ìyá mi Odù é a esposa de Ifá, seu assentamento é o Igbá-odù (cabaça dos odù) ou seja, ela é a mãe de todos os 256 odù.
O Igbá odù é uma cabaça cujo dentro tem uma série de elementos sagrados e secretos que não podem ser vistos por pessoas não preparadas. Esses elementos representam o céu e a terra em sua união fecunda.
Igbá odù normalmente é envolvida em um òjá funfun (pano branco) e uma roupa de palha, sempre deve ser colada em um local restrito, pode ser guardada dentro do Àpèrè Odù, um tipo de caixa em madeira que lembra muito um carretel de linha gigante.
Para falar de Ìyá mi Odù, é preciso falar antes de Ifá.
Ifá é o deus do destino, e o grande revelador do destino humano. Na tradição Yorùbá só existe UMA iniciação em Ifá, essa é chamada de Itefá, pois é no Ita-ifá (terceiro dia da iniciação) que surge o odù revelador do destino do devoto. Nesse procedimento o devoto passa por um ritual chamado Igbó-dù (floresta de Odù) que pode ser feito em uma mata fechada, ou em um quarto sagrado. Nesse ritual o devoto é APRESENTADO à esposa de Ifá, onde o iniciado pede para que a mesma lhe favoreça com um bom destino.
Muitos dizem que Isefá é a iniciação de Ifá, chamada de primeira mão, devido o sincretismo com o culto de Ifá afro-cubano, isso é um grande equivoco, pois, Isefá ou sese, é apenas um trabalho feito para Ifá, onde os ikin são lavados e sacralizados. Não é um processo iniciático.
Lembro aqui que o Itefá não é uma iniciação sacerdotal, ou seja, ser submetido à ela, não implica que a pessoa será Bàbáláwo, e sim apenas, que a pessoa passa a ser um iniciado de Ifá e poderá através dessa iniciação ter uma vida mais equilibrada e harmoniosa com seu próprio destino.
Dentro do culto de Ifá existe outra consagração, chamada de Ìpínodù, essa seria na realidade a iniciação na divindade Odù-logboje, ou seja, o devoto é iniciado na esposa de Ifá. Essa iniciação é obrigatória para todos os iniciados que possuem destino para serem Bàbáláwo, pois, apenas após ela que os mesmos poderão começar a aprender Ifá com seu mestre, para que após 15 ou 30 anos venham a ser submetidos ao Iko-ate (avaliação), onde caso aprovados, serão publicamente declarados como sacerdotes de Ifá. Porém, a mesma consagração pode ser feita para outras pessoas, principalmente aquelas que irão atuar no sacerdócio do culto dos outros òrìsà, devido a importância social e espiritual, essa iniciação possibilita suporte energético para tamanha responsabilidade.
Nessa iniciação, o devoto caso seja do sexo MASCULINO, recebe a cabaça contendo os símbolos de Odù-logboje, ou seja, ele recebe o Igbá odù. Assim como, todas as orientações de como utilizar este elemento tão sagrado. Lembramos que, Igbá odù deve ser algo protegido dos olhos de qualquer pessoa. Além disso, é nessa consagração que o dedo do meio de ambas as mãos recebe um tipo de magia que possibilita a marcação dos odù, portanto, o sacerdote após isso passa a ter o direito de em alguns ebo utilizar os sinais dos odù para ativar a energia benéfica dos mesmos para solucionar um eventual problema. Logo, isso deixa claro, o risco de se riscar odù ser ter sido submetido ao Ìpínodù, além de que, os odù riscados sem essa iniciação, não possuem função energética alguma.
Igbá Odù, Ìyá mi Odù-logboje tem vários oríkì (epítetos – nomes em louvor) são eles: Odùlogboje (aquela cujo o pote é feito de chumbo e não de madeira), Ajerereabojuojo (aquela cujo os olhos estão voltados para todas as direções), Adakinikinikara (juíza suprema que distingue o bem do mal), Alaburaja (a sanguinária que ama o sangue e dele se alimenta), Okalekotogowo ( Aquela que dá vida e cobra), Ìyá àgbà (mãe anciã), Igbà ìwà (cabaça da existência).
Existem alguns oruko, nomes, em honra a Odù-logboje, tais como:
Odù-so (criança que teve o nascimento anunciado pelo signo de Odù).
Odùbiyi (dado para a criança que nasce com seis dedos na mão ou no pé).
Odù-t’olà (odù é prosperidade)
Odùgbéèmí (Odù me apóia) entre outros...
Segue uma orin (cântico) em honra a Odù-logboje:
Odù aya ifá “Odù esposa de Ifá”
Odù de o aya Ifá o “ Odù chegou esposa de Ifá”
Odù bá mi se o “Odù me ajude!”
Odù-wa la n pé l’odù “Nossa Odù, que não conhecemos nos salve”
Odù àgbà awa omo re Odù. “ Odù a antiga nós somos seus filhos Odù”
Ìyá Mi Odù-logboje é considerada por alguns, o aspecto positivo de Ìyá mi Òsòròngà, não podemos de forma alguma dizer se isso é de fato ou não verdadeiro, mas, que a relação entre essas forças é bem próxima, isso não podemos ter duvidas.
Odù é aquela que detém o poder supremo do conhecimento de Ifá, portanto, um sem o outro é algo incompleto.
Odù, assim como Ìyá mi, cobra de seus filhos, uma postura discreta, sem ostentação de poder, pois isso baixa a energia vital de seus devotos.
Bem, não poderia deixar de dar os devidos créditos às fontes consultadas.
Fonte oral: Bàbá Olójè Apesi Rasaki Sàlámì, meu amigo e mestre, que tem trabalhado comigo em prol do culto yorùbá.
Espero com o texto acima, ter contribuído para que você amigo leitor, tenha compreendido o papel dessa energia muito poderosa dentro do plano material e espiritual. A relação da mesma com Ifá e com a grande mãe do universo. Não sou Bàbáláwo, mas como um iniciado em Ifá, luto para que este culto seja praticado com seriedade pelos seus devotos e procuro dar minha contribuição para isso propagando um pouco, do pouco conhecimento que possuo.
Um abraço!
Ire o!
Awo Ilésire Omigbàmí Òsàlásínà – Zarcel Carnielli.